outubro 23, 2009

Os nós entre nós.

Jane saia de casa no exato momento em que Mike chegara. Moravam no mesmo prédio, mas nunca haviam se visto. Por um breve momento seus olhos se encontraram. Mike achou que a reconhecia, tinha certeza que já a havia visto em algum lugar. Mesmo assim ficara estupidamente parado em frente ao seu apartamento, fitando-a trancar a porta. Mike percebera o quanto Jane era bonita. Seus olhos não conseguiam desviar-se daquele lindo rosto preocupado. Jane sempre muito apressada, mal o cumprimentou e saiu. Estava vestida para malhar, no relógio marcavam 14h00min, deveria estar na academia às 13h30min.

Horas antes Mike discutia com sua mãe, ela odiava o modo como ele vivia. Queria que ele se preocupasse mais com a realidade das coisas. Queria que ele tivesse um emprego de verdade e que não iria mais emprestar dinheiro a ele. Mike morava sozinho em um apartamento no centro da cidade. Vivia de musica. Tocava em pequenos bares noturnos. Precisava de um trocado para poder completar o dinheiro do aluguel, a noite passada não o trouxera muito lucro. Mike saiu batendo a porta. Voltava pra casa sentindo-se traído, afinal sua mãe deveria apoiá-lo.

Jane era colunista de um importante jornal semanal. Estava sempre ocupada, com o pensamento longe. Naquele dia sua agenda estava lotada, estava com todos os horários cheios. No momento em que saia de seu escritório, percebera que estava atrasada para a academia. Arrumou as coisas correndo, deixando cair vários pertences. Saiu às pressas, não queria chegar atrasada no seu primeiro dia.

... 

O correio tinha chegado cedo naquela manha de sábado. Mike acordou com o barulho da campainha. Assustado e ainda meio sonolento, colocou as pantufas e foi atender a porta sem pressa. A campainha insistia, tocando repetitivamente. Ao olhar no olho mágico, viu que era Jane. Seu coração disparara, um repentino frio na barriga o incomodava. Arrumou o cabelo rápido, verificou o hálito e logo abriu a porta. Com uma voz mansa disse:
- Olá.

Jane estava como Mike jamais imaginara. Vestia um pequeno short jeans com uma blusinha branca, dando dá pra ver a cor de seu sutiã. Ele não conseguia conter o nervosismo. Jane logo o indagou:
- Então, você que é Mike Coligam?

Mike ainda sem entender, só balançou a cabeça como sinal de afirmação. Jane deu um pequeno sorriso. E arrumando o cabelo disse:
- É que o carteiro entregou suas cartas no meu apartamento sem querer. Acho que não prestou atenção no numero. Não sei ao certo.

Com um sorriso envergonhado lhe entregou os envelopes. Mike estava encantado com a doçura de sua voz. E aquele sorriso que o cegara. Pegou os envelopes sem desviar o olhar de seu rosto. Despediram-se sem muita cerimônia. Mike fechou a porta, mas não conseguia parar de pensar em como Jane despertara uma enorme sensação boa nele, e em como ele gostava disso.

Poucos minutos depois resolveu averiguar as suas cartas. Jogou a maioria fora. Algumas propagandas, algumas contas e quando finalmente chegou na ultima, percebera que era um envelope temático. O abriu por curiosidade. Na carta uma inscrição com letras em negrito dizendo: “Você está convidado a participar da festa de ex-alunos da escola Vinicius de Moraes. Contamos com a sua presença”.

A idéia no começo não fora agradável. Afinal ele nunca apreciara esses tipos de festas. Lembrou-se do passado, os amigos, as bebedeiras, os vexames. Ele queria saber o que havia acontecido com eles, todos eles. Pegou o telefone e confirmou presença.

... 

A noite estava quente. Mike chegara ao antigo colégio no horário exato. Percebera que nada havia mudado. As pilastras ainda estavam cheias de chicletes. O ar ainda era denso, contendo o mesmo cheiro de madeira fresca. Na entrada reconheceu um velho amigo. E entre lembranças e risos, avistou de relance a entrar uma linda mulher de vermelho. Os cabelos presos, enegrecidos. Jane acabara de chegar com o mesmo charme da primeira vez que ele a havia visto.

As coincidências indagavam seus pensamentos. O que Jane fazia ali? E nesse meio tempo de busca por respostas, foi que Mike vindo de um devaneio descobrira de onde a conhecia.
Jane fora sua companheira de classe, ou melhor, muito mais que isso. Jane fora a menina na qual ele dedicara toda a sua admiração no colégio.
“Deus, como pude não reconhecê-la” Pensava Mike.

Jane que cumprimentara algumas antigas amigas fora surpreendida por Mike, que a agarrara pelo braço bradando: “Jane, posso falar com você um instante? Por favor”.
A surpresa estava nítida no semblante de Jane que não conseguira esboçar palavra alguma. Balançou a cabeça como sinal de afirmação e acompanhou-o sem saber pra onde iriam.

O silencio mostrou fixo enquanto caminhavam juntos. Jane queria explicações e indagou:
- Mike, o que está fazendo? Para onde estamos indo?

Finalmente pararam. Estavam na quadra do colégio. Mike quis explicar tudo a Jane, quis confessar tudo a ela. Aquele era o momento certo. E foi soltando as palavras sem muito pensar:
- Jane, me desculpe, por tudo. Aposto que você deve estar se perguntando o porquê de tudo isso. Eu sou o Mike do colegial, lembra-se agora? Lembra-se também das tardes que passávamos juntos? E da cumplicidade? E depois de todo esse tempo, eu reconheço que aquele sentimento que há muito se mostrava onipresente, despertara no momento exato que eu te vi na minha porta. Tão linda!

Mike respirara fundo, não queria que Jane pensasse que ele mais um maluco que a desejara.
Jane que absolvia todas as palavras em silencio e com os olhos em lágrimas, abraçou-o como num impulso. E sussurrou com a voz embargada: “Eu sempre esperei por você”.

2 comentários:

  1. (palma crescente) *O*
    LIVRO! LIVRO! LIVRO!
    ;)

    ResponderExcluir
  2. eita porra hein, pena que não tem palma crescente aqui

    LIVRO! LIVRO! LIVRO![2]

    ResponderExcluir