dezembro 05, 2010

Nóis - Catia Andrea Cernov

Dizem que nóis é passivo, atrasado... É vagabundos. Que nóis só qué samba, carnaval, chutar bola e ver os peitos da mulata gostosa balançar. É... nóis qué que a coisa acabe em pizza! Ah! Mas o que nóis não qué é interceptar mísseis Scud na Ásia, vistoriar armas químicas no Oriente, nem fazer jogos de guerra com o mundo... muito menos assistir ao estupro das negras peitudas e gostosas na África. Não! Nóis acha mais legal ser da “miscigenação livre”, do sangue bom. Acham que para nóis, do jeito que ta, ta tudo bem. Que não estamos nem aí para fazer nosso trabalho direito. Ah, mas nóis gosta de trabalhar, sim! A gente bem que queria um trampo decente, para render frutos para nossas famílias, vizinhos e amigos. O que nóis não qué é ser explorado, ALCAçados e transformados em óleo para lubrificar a máquina de fazer dinheiro dos outros! Acreditam que nóis não sabe plantar direito, não sabe fabricar coisa decente e fazemos muamba. Bem que a gente queria plantar e produzir como os outros. Ah, mas nóis também não qué transformar nosso chão numa máquina de devastar florestas e escravizar povos (viva Chico Mendes!) Não! Nóis gosta de trabalho com dignidade. E, no final do expediente, um samba na palma da mão e uma cerveja gelada no bodega do Zé. Nóis gosta de biritar, para esquecer o trampo que é duro. Mas nóis não qué controlar as mentes dos povos para que eles nunca se esqueçam do brinde aos lucros dos outros. Também falam que nóis é passivo demais, porque carregamos as pedras nas costas e ainda por cima estamos rindo. Ah, mas a verdade é que nóis preferimos carregar o peso do que empunhar o chicote. Um dia, Deus, que também é brasileiro, vai nos abençoar por isso. Até mesmo porque ele ta de saco cheio de conflitos e guerras. Ele quer é mais curtir seu domingo, jogo do Maracanã, roda de samba e... (mulher ele não pode!). Porque Deus abençoou esta terra para ser a futura potência mundial da paz e solidariedade! E, conforme o Almanaque Abril de dois e não sei o quê, com o mais alto índice de IDP (índice de Desenvolvimento da Paz). É, nóis aqui gosta de paz! Nóis não faz guerra! Nóis é a galera sangue bom! Aqui, nóis também briga com os vizinhos por um pedaço de terreno mal dividido, uma bola que quebrou a vidraça ou a galinha que desapareceu de repente do terreiro. Mas quando o vendaval leva as telhas e a chuva desaba os barracos, nóis acolhe os vizinhos na boa. Divide a sardinha com farinha e toicinho do feijão. O que nóis não faz é detonar os miseráveis “bodes expiatórios de turbantes” com bombas... para depois jogar alimentos e remédios nos pára-quedas. Não precisamos da hipocrisia para limpar a barra diante da opinião do mundo. Não! Pelo contrário... depois do temporal, nóis faz uma vaquinha e comemora tudo junto, com feijoada e um pagode no fundo do quintal. Aqui, as mães solteiras (jovens Marias) são acolhidas nos barracos já apertados. As prostitutas (durante o dia!) são nossas colegas de mesa. O traficante (fora de seu horário de rush) bate uma pelada com a galera. Nóis não ta nem aí pro assunto dos outros. Nóis qué é dividir o campinho com os manos de lá e fazer gol (eis nossa Faixa da Gávea!). Nóis aqui tem preconceito também: “aposto como foi aquele neguinho fedorento que carregou minha sandália!”, “esse argentino ou é muambeiro ou é boiola!”, “aquele japonês safado... aposto que nem sabe quem é o pai dele!”. É... mas na hora em que as enchentes elevam seus níveis de água, nóis junta tudo e esquece o “pobrema”. Fazemos mutirão e carregamos alimentos não perecíveis (viva Betinho!). Reconstruímos os barracos e passamos o Trator da Comunidade pelas ruas interditadas. Até dividimos os cobertores... com pobres, pretos, putas, gringos, gays e japoneses bastardos! O que nóis não faz é sacanear... negar remédios e patentes pros caras, só porque eles são os “pretos do terceiro mundo”. Aids deles! Não! Os neguinhos aqui batem uma bola legal e sacam um rap maneiro! Nóis, ás vezes, tem mania feita de rir da desgraça do próximo. Ah! Mas se o próximo ficar próximo... a gente também chora. Não sabe nem porque, mas chega próximo, divide a dor e a barriga vazia. O que nóis não faz é aproveitar a exploração do próximo em lucros nas Bolsas de Valores do mundo. Apostamos no bicho... não sabemos o que significa Wall Street! Nóis qué é bolsa para nossos filhos levarem livros e cadernos pra escola comunitária. Ás vezes, nóis é ignorante. Deixamos os outros invadirem nossas terras em troca de rádios, votos, tapinhas nas costas, patentes de biodiversidade e espelhos ridículos. Na maioria das vezes, só pra comprar um quilo de feijão. Também adoramos aparecer na televisão. Mas nóis não toma o território e a dignidade de ninguém para garantir ganhos no bolso depois do comercial em horário nobre (viva a novela das oito!). Nóis assiste... mas nóis não têm a intenção de mentir felicidade para nossas meninas na Indústria da Ilusão! Nóis gosta de carro... corrida automobilística (viva Senna!). Mas nóis não qué fazê guerra por petróleo – que fazem as máquinas roncar. Nóis prefere empurrar e ver o carango pegar no tranco do que ver sangue bom derramado na areia do deserto. Nóis não esquenta se o vizinho é católico ou macumbeiro. Padre ou orixá, na hora de comer o pão que o diabo amassou, é tudo igual. O que nóis não qué é matar os caras só porque eles falam com Deus de maneira diferente. Nóis prefere a tolerância do que a ignorância! Sabem de uma coisa? Nóis num é atrasado, passivo ou ignorante coisa nenhuma! Nóis é um povo cheio de esperança! Povo sangue bom! Porque chegará o dia em que os outros se queimarão em suas próprias fogueiras de vaidades. E nóis, os bestas e vagabundos aqui, despertaremos um tal de “Gigante Adormecido”. E, com certeza, plantaremos e produziremos para alimentar o mundo. Não como os outros... mas como nóis!


O texto não é de minha autoria.

dezembro 03, 2010

Deus, salve a América!

Somos padronizados
Com altas doses de inércia
E demasias inúteis.
Contemplamos a indiferença alheia
E cultivamos o cinismo dos absurdos.
Limitados a pensamentos arcaicos.
A versão vil das espécies
Subordinados das elites
A realidade futurista de uma sociedade revolucionária
Está motivada por alguns desejos utópicos e longínquos.
Com pessoas tão oscilosas e corruptíveis
Construindo impasses com ideologias egoístas.
Este é o futuro.
Deus salve a América!